“Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Achegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós” (Tiago 4:7-8)
Existem dois fatos que devemos marcar fortemente aqui: Em primeiro lugar, que quanto mais nos achegamos a Deus, mais Ele se achega a nós. Existe uma lei espiritual de reciprocidade, ou seja, Deus só se achegará a você na medida em que você se achega a Ele! Não adianta chorar, gritar ou espernear, nem mesmo adianta um “arrependimento” ou remórsio que não leve à prática de oração, leitura bíblica, louvor, etc. Deus não vai se achegar a você porque você fica vendo televisão, viajando na maionese e no mundo da lua, nem mesmo só porque você tem um desejo interior de mudar para melhor. Ele só se achegará a você quando você definitivamente começar a buscar a Ele. Evidentemente, a consequencia natural disto é um aperfeiçoamento interior na pessoa que busca.
Ninguém vai buscar a Deus e volta do mesmo jeito que antes. Quando Moisés se achegava a presença de Deus na tenda do tabernáculo, ele voltava com o seu rosto brilhando. Isso é uma tipologia daquilo que espiritualmente acontece conosco quando estamos na presença de Deus. Nós não voltamos com o rosto literalmente brilhando (pelo menos comigo não), mas espiritualmente estamos crescendo cada vez mais, brilhando “de glória em glória” (2Co.3:18) e “em glória cada vez maior” (2Co.3:18). Veja que maravilhoso aquilo que Paulo escreve a nosso respeito, após traçar o contraste evidente entre o que acontecia literalmente com Moisés e aquilo que literalmente ocorre conosco, em 2Coríntios, cap.3:
“Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18)
Mas temos que ressaltar aqui que essa presença de Deus não é definitiva, mas passageira. Moisés não ficava com o brilho literal em seu rosto eternamente. Quanto mais longe ele ficava da presença de Deus, mais aquele brilho ia se passando com o passar do tempo. Quando, contudo, ele voltava à presença de Deus, aquele brilho em seu rosto retornava com grande poder e intensidade. A mesma coisa acontece nas nossas vidas, espiritualmente. Quando estamos em oração (ou em algum outro estado de adoração a Deus), nós estamos sendo edificados cada vez mais, e espiritualmente crescendo, de glória em glória.
Quando, contudo, saímos da presença Dele, aquela glória se desfaz com o tempo. Isso significa nada a mais nada a menos que buscar a Deus não deve ser uma coisa passageira ou “de vez em quando”, mas sim um estado permanente, algo que está sempre se chegando à presença Dele, sabendo que cada momento longe Dele é tempo perdido. O motivo pelo qual muitos não conseguem superar o estado de pecado é porque não conseguem ficar muito tempo na presença de Deus. Conformam-se com pouco tempo de louvor e oração ou nada disso, e acham que o pouco é suficiente. Acham que aquela glória que resplandece não irá desfalecer nunca, o que é um grande engano.
Mesmo o crente mais cheio do Espírito Santo do mundo todo, se deixar de buscar a Deus, desfalece. Mesmo aquele no qual a glória de Deus mais resplandece atualmente, se começar a buscar menos, a glória vai embora. Jesus ensinou a oração como uma prática diária, ao dizer: “...o pão de cada dia nos dai HOJE” (Mt.6:11). A partir disso é obivamente presumível que todos os dias temos que clamar a Deus (não apenas pelo pão ou pelas nossas necessidades, mas principalmente também em ação de graças e interecessão).
De todos os pontos da oração do Pai-Nosso (não significa que só temos que fazê-la, mas sim que ela nos serve de modelo de oração), Jesus nos mostra apenas uma necessidade – a do pão – e vários outros pontos de oração tais como a vitória contra o pecado (“não nos deixe cair em tentação”), o louvor a Deus (“santificado seja o teu nome... teu seja o Reino, o poder e a glória para sempre”), a vontade de Deus feita sobre a terra (“seja feita a tua vontade... assim na terra como nos céus”), o perdão (“perdoai as nossas dívidas... como perdoamos a nossos devedores”).
Sumariando, Jesus ensinou (na oração modelo) muito mais coisas do que apenas pedir pelas nossas necessidades (o que certamente não é errado, mas não é a única coisa que deve ser colocada em oração). Ele ensinou o louvor a Deus, a vontade de Deus, o reino de Deus, e o perdão de Deus. Paulo escreve nos mesmos termos, dizendo:
“Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” (Filipenses 4:6)
Note que Paulo não fala apenas das petições, mas também da ação de graças a Deus, da oração intercessória e das súplicas. Não é apenas a petição (aquilo que nós desejamos ganhar de Deus) que temos que fazer a Deus. Os principais problemas do povo de Deus nas orações são dois: (1) Não oram nem perto do tanto suficiente; e: (2) Quando oram, só ficam basicamente pedindo... e pedindo... e pedindo... sem interceder pelos outros, agradecer a Deus pelo que já aconteceu, está acontecendo e por aquilo que ainda vai acontecer, e, pior ainda, sem lutar em oração contra o pecado, visando não cair em tentação. A oração tem que ser algo diário, e, mais do que isso, algo constante na vida do cristão.
Paulo fala para se “encher do Espírito Santo” (Ef.5:18). O original grego está no tempo contínuo. Ele implica não em algo que tem que ser feito uma vez para sempre ou de vez em quando, mas sim em um processo que perdura para sempre, constantemente se enchendo do Espírito Santo. Passando para o bom português, a linguagem mais correta seria: “Encham-se e continuem continuamente se enchendo do Espírito Santo...”.
Obviamente Paulo não estava apenas se referindo a ter o Espírito Santo, pois isso certamente os efésios já tinham. Antes, Paulo está falando de se encher e prosseguir se enchendo do Espírito Santo, continuamente buscando a Deus por meio de Jesus Cristo. Isso certamente não condiz com um efeito, mas sim com um processo – continuamente se enchendo do Espírito de Deus!
Da mesma forma, o apóstolo escreve para “orar sem cessar” (1Ts.5:17) e, em outra opurtunidade, diz que ora em línguas mais do que todos os coríntios: “...Dou graças a Deus porque falo em línguas mais do que todos vós” (1Co.14:18)! O autor de Hebreus também escreve dizendo para darmos “continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb.12:15). A Almeida Revisada e Atualizada verte este mesmo trecho da seguinte maneira: “Por meio de Jesus Cristo, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb.13:15).
Só nestes três versículos podemos ver três aspectos em cena: a oração, a oração em línguas e o louvor. O mais interessante, contudo, não é apenas o fato destes três serem mencionados (eles são constantemente citados ao longo da Bíblia), mas sim o fato de que as pessoas que escreveram insistiam que a prática dessas coisas deve ser algo constante, direto: “...Sem cessar... mais do que todos vós... continuamente... sempre...”. Isso implica necessariamente em uma prática constante na vida dos cristãos!
Todos nós precisamos aprender com o exemplo de vida do profeta Daniel:
“Quando Daniel soube que o decreto tinha sido publicado, foi para casa, para o seu quarto, no andar de cima, onde as janelas davam para Jerusalém. Três vezes por dia ele se ajoelhava e orava, agradecendo ao seu Deus, como costumava fazer” (Daniel 6:10)
Daniel era um dos principais supervisores do reino da Pérsia, ele comandava junto com mais duas pessoas um total de cento e vinte províncias, ou seja, era alguém muito – muito ocupado! Ele tinha responsabilidades sociais para o reino terrestre, tendo que prestar contas ao rei, mas ele jamais se esqueceu de que tinha um verdadeiro Reino pelo qual teria que prestar contas ao Rei dos reis, e, sabendo disso, orava três vezes ao dia, grandes e longas orações como a encontrada em Daniel cap.9 (a segunda maior oração registrada em toda a Bíblia) e que ainda só foi parar porque o anjo veio falar com ele (v.21)!
Daniel colocava o Reino de Deus em primeiro lugar e orava constantemente, o que resultou na inveja dos outros dois supervisores e, se aproveitando da religiosidade de Daniel, arrumaram uma “brecha” para o jogarem em uma cova dos leões! E, mesmo assim, ele continuava orando as três vezes ao dia, sem abrir mão de nem um minuto na presença de Deus!
“Então disseram ao rei: Daniel, um dos exilados de Judá, não te dá ouvidos, ó rei, nem ao decreto que assinaste. Ele continua orando três vezes por dia” (Daniel 6:13)
Bom, o final dessa história todo mundo conhece. Daniel foi liberto da boca dos leões, porque os leões buscavam a carne, e Daniel não era carne, Daniel era espírito! Aleluia! Ele é um grande exemplo de alguém que não buscou agradar a carne, mas tinha a carne dominada pelo Espírito e, desta forma, era suprido por Deus em todas as suas necessidades. O que capacitou Daniel a ser tão espiritual ao ponto dos leões não encontrarem carne para devorar, foi a sua busca a Deus mesmo em meio às adversidades! Qual foi o resultado disso? O fruto de tudo isso foi que, além do livramento, Daniel se fez especial para com Deus, agradável a Ele, que não à toa o chamava de o “muito amado”:
“Assim que você começou a orar, houve uma resposta, que eu lhe trouxe porque você é muito amado” (Daniel 9:23)
“E ele disse: "Daniel, você é muito amado. Preste bem atenção ao que vou lhe falar; levante-se, pois eu fui enviado a você” (Daniel 10:11)
“Ele disse: Não tenha medo, você, que é muito amado. Que a paz seja com você! Seja forte! Seja forte! Ditas essas palavras, senti-me fortalecido e disse: Fala, meu senhor, visto que me deste forças” (Daniel 10:19)
Aí também reside o problema de muitas pessoas, que dizem que “Deus te ama do jeito que você é mesmo sem fazer nada”. É óbvio que Deus te ama do jeito que você é (assim também como Deus ama os assassinos, as prostitutas, etc), o que não o impede de ser lançado para o inferno, pois Deus é amor, mas ele também é justiça! Daniel conseguiu ser “muito amado” por Deus porque ele fazia coisas para merecer tal título, tal amor, tal atenção de Deus. Deus pode amar a todas as pessoas, mas ele se agrada muito mais de algumas pessoas do que de outros. Foi Deus quem disse a Moisés:
“O Senhor disse a Moisés: Farei o que me pede, porque tenho me agradado de você e o conheço pelo nome” (Êxodo 33:17)
É óbvio que Deus conhece a todas as pessoas, mas Moisés se fazia mais perto dele, mais conhecido, mais íntimo, mais agradável, pelo que Deus se agradava tanto dele ao ponto de dizer que o “conhecia pelo nome”! O amor de Deus é imutável, mas Ele se agrada daqueles que mostram o seu verdadeiro amor por ele mediante a prática de boas obras (Lc.3:8; Mt.3:8; Lc.6:44; Mc.4:17; Mt.3:2; Mc.1:15; Lc.24:47; Jo.3:2; Tg.2:14; Tg.2:17; Tg.2:18; Tito 3:5-8; Efésios 2:8-10). Se você quer ser muito amado como Daniel, então seja como ele, mas, lembre-se, a Bíblia não nos mostra sequer um único pecado de Daniel, que certamente pecou, mas era um homem justo e íntegro diante de Deus, que o tornou muito amado.
O apóstolo Paulo também não é nem um pouco bobo. Ele também sabia que para ser vitorioso na caminhada contra o pecado deveria depositar grande parte de seu tempo buscando direto na fonte (Jesus) o “combustível” para continuar prevalecendo. Ele afirma aos Coríntios:
“Dou graças a Deus por falar em línguas mais do que todos vocês”(1 Coríntios 14:18)
Paulo dava graças a Deus por orar em línguas mais do que todos os Coríntios. E olha que eles falavam mesmo em línguas! O uso frequente do falar em línguas dentro daquela comunidade era tão grande, que o apóstolo teve que regular o uso na igreja de lá para que ficasse de maneira organizada (1Co.14). Os coríntios tinham o costume de falar em línguas constantemente, e Paulo afirma que falava mais do que todos eles! É evidente que Paulo não era orgulhoso, nem soberbo, e nem prepotente.
Ele também não conhecia todos os coríntios para saber o quanto que cada um falava em línguas. A conclusão que nós chegamos é que o tempo que Paulo depositava orando em línguas era tão grande, mas tão grande, que ele já dava como certo que ele falava “mas em línguas do que todos vós” (1Co.14:18). Paulo não era perfeito como Jesus; ele, como humano, tinha falhas, e até mesmo já chegou a perder batalha espiritual contra Satanás:
“Pelo que fizemos o possível de ir visitar-vos, ao menos eu, Paulo, em diversas ocasiões, mas Satanás nos impediu” (1Tessalonicenses 2:18)
Veja que não é nos dito que Deus “mudou de idéia” com relação ao que aconteceria com Paulo; ele diz claramente que “Satanás nos impediu”. Sabemos que Paulo ganhou muito mais lutas do que perdeu, mas ele era humano e, às vezes, Satanás obtinha êxito em frustrar seus planos. Se nem sequer Paulo esteve isento da batalha espiritual, de suas vitórias e de suas frustrações; quanto mais um crente na caminhada contra o pecado, contra a carne e contra o diabo! O que Paulo fazia para obter mais sucesso do que derrotas? Orava em línguas incessantemente (1Co.14:18)! De fato, ele resumiu a caminhada cristã da seguinte maneira:
“Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5:17)
Meu amado irmão, o evangelho não é algo complicado, não é algo “misteriosíssimo”, não existe uma forma de descobrir o “elo perdido” do evangelho de como obter sucesso e vitórias. O mistério que existia já foi revelado, o mistério é Cristo (Ef.3:4). Tudo o que existe de suficiente para a caminhada cristã já nos foi revelado nas Escrituras; o evangelho é algo realmente simples: “aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra: e, ao que bate, a porta lhe será aberta” (Mateus 7:8). Não existe uma “fórmula mágica”; a única fórmula mágica que existe é essa:
-Quanto mais você busca, mais você encontra!
Eis aí todo o “mistério” do cristianismo. Você quer “romper no sobrenatural”? Então busque! Você quer vencer o pecado? Então busque! Você quer ter certeza de que é realmente salvo? Então busque! Você quer vencer espiritualmente? Então busque! Você quer ir a Jesus? Então busque!
“Buscar-me-eis, e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jeremias 29:1)
Não existe outro segredo para vencer o pecado senão só este: Achegarmos-nos a Deus, e Ele se achegará a nós! Ninguém que se achega constantemente a Deus pode continuar vivendo no pecado, porque “qualquer que permanece nele não peca; qualquer que peca não o viu nem o conheceu” (1Jo.3:6).
Note que o resistir ao diabo e ele fugirá de vós está diretamente relacionado àquilo que Tiago escreve logo em seguida, que consiste em se submeter a Deus, e se achegar a Ele. Não existe outra “tática”! Infelizmente, o sentido inverso também é verdadeiro. Quanto menos nos achegamos a Deus, menos Ele se achega a nós, e mais volúveis e sujeitos ao pecado estaremos. A lei espiritual para o sentido inverso nada a mais é do que “um abismo chama outro abismo” (Sl.42:7). Quando achamos que a situação já está suficientemente ruim, coisas ainda piores acontecem!
É claro que isto é mais um processo do que um efeito imediato, muitas vezes poderemos buscar bastante e não ver uma solução imediata, mas ela certamente virá com o tempo: seja em dias, semanas ou, talvez, mêses. A semente de Deus nele permanece, e, em quem a semente de Deus permanece, este não pode ser escravo da carne ou do maligno:
“Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus” (1 João 3:9)
Alguém que é nascido de Deus não pode mais viver sujeito ao pecado, pois o Filho o tornou “verdadeiramente livre” (Jo.8:36) de qualquer tipo de escravidão ao pecado. Não temos que temer mal algum quando o Senhor está conosco, mas temos sempre que lembrar que ele só se achega a nós (“Se achegará a vós”) na medida quanto nós nos achegamos a Ele e nos sujeitamos à Sua vontade.
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Por: Lucas Banzoli.
Extraído de meu livro: "Como Vencer o Pecado".
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