QUAL A FINALIDADE DO SOFRIMENTO?

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Por que Deus permite o sofrimento na vida de um cristão?

 

Ironicamente, Deus dedicou um livro inteiro da Bíblia para tratar exaustivamente deste assunto: o livro de Jó. Em primeiro lugar, temos que ressaltar que Jó não é um personagem fictício nem o livro de Jó é alegórico, como alguns pensam. Jó é tão real que foi colocado junto a outros dois personagens bíblicos reais: Daniel e Noé (Ez.14:14). Assim, se Jó não tivesse existido, também Daniel e Noé não teriam existido.

 

Além disso, seria sem sentido que Tiago tivesse usado como exemplo de fé e perseverança em meio ao sofrimento o caso de um homem que nunca existiu, ao invés de usar tantos outros inúmeros casos de servos de Deus que sofreram e existiram realmente. A afirmação de Tiago (Tg.5:10,11) perderia força e crédito caso a Igreja primitiva não cresse que Jó existiu de fato. Afinal, ninguém que realmente existe e que está realmente sofrendo seria consolado por um exemplo de perseverança de alguém que não sofreu nada porque nem existia!

 

Mas em que época viveu Jó? Ele teria vivido há aproximadamente dois mil anos antes de Cristo, pois viveu por 140 anos (Jó 42:16), que era a idade média dos antigos patriarcas. Outros fatores históricos e culturais presentes no livro nos ajudam a identificar essa data com mais precisão. Segundo a tradição, Jó foi um livro escrito por Moisés, que também escreveu o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia.

 

Isso significa que Deus não apenas dedicou um livro inteiro para tratar exclusivamente da questão do sofrimento, como também fez questão de usar um exemplo bem antigo e escrito numa data bem antiga, para servir de edificação e conforto desde aqueles tempos até hoje, a todas as gerações. Isso porque o assunto é de profunda importância.

 

De acordo com o livro, Jó era o homem mais justo de toda a terra da época, que Deus permitiu que sofresse muito durante algum tempo. Ele perdeu tudo o que tinha – incluindo todos os seus filhos e filhas, pertences e bens materiais – e contraiu uma série de chagas e doenças terríveis, chegando à beira da morte. De fato, ele chegou a clamar pela morte, tamanho era o seu desgosto com a vida, tão profundo era o seu sofrimento. Para piorar, ele tinha a companhia de três falsos amigos, que o acusavam injustamente. A sua situação era tão crítica que ele chegou a ficar coberto de vermes sobre as suas feridas:

 

“Meu corpo está coberto de vermes e cascas de ferida, minha pele está rachada e vertendo pus” (Jó 7:5)

 

“Se digo à corrupção mortal: Você é o meu pai, e se aos vermes digo: Vocês são minha mãe e minha irmã, onde está então minha esperança? Quem poderá ver alguma esperança para mim?” (Jó 17:14-15)

 

Todo o livro de Jó é um verdadeiro golpe de morte no evangelho da prosperidade e na teologia triunfalista existente em nossos meios, pois mostra que um homem justo pode sofrer e muito. De fato, ele se tornou um problema tão grande para os falsos profetas de nosso tempo que eles tiveram que inventar uma nova interpretação para o livro de Jó, segundo a qual ele teria aberto brecha e por causa dos seus pecados contraiu para si todos aqueles sofrimentos.

 

Ou seja: eles acusam Jó da mesma forma que seus falsos amigos do livro (Zofar, Bildade e Elifaz) fizeram, e foram condenados por Deus por isso[1]. Eles também pensavam que o sofrimento era sempre a consequencia de um pecado praticado pela pessoa que estava sofrendo, e, se Jó estava sofrendo, isso só poderia significar que ele era um baita pecador, muito pior do que eles que não estavam sofrendo nada. Então, todo o livro de Jó é elaborado para refutar essa falsa visão antiga e atual sobre a razão do sofrimento humano. Isso porque Jó é retratado como sendo o homem mais justo de toda a face da terra daquela época:

 

“O Senhor disse a Satanás: ‘De onde você veio?’ Satanás respondeu ao Senhor: ‘De perambular pela terra e andar por ela’. Disse então o Senhor a Satanás: ‘Reparou em meu servo Jó? Não há ninguém na terra como ele, irrepreensível, íntegro, homem que teme a Deus e evita o mal’” (Jó 1:7,8)

 

Além de ser o homem mais justo da terra, ele era um “homem íntegro e justo; temia a Deus e evitava o mal” (Jó 1:1), e “irrepreensível” (Jó 1:8). Se ele era irrepreensível é porque não havia nenhuma “brecha” ou defeito nele para que pudesse ser castigado por Deus por isso. Os falsos profetas dos nossos dias ensinam que o diabo conseguiu entrar na vida de Jó porque este tinha medo e por isso “abriu brecha” para ele, mas a verdade é que a Bíblia ensina explicitamente o contrário, que Deus o protegia porque Jó era íntegro e irrepreensível. Foi por isso que o diabo disse:

 

“Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da família dele e de tudo o que ele possui?” (Jó 1:10)

 

Jó era protegido por Deus porque era temente a Ele, mas a Bíblia não diz que ele pecou e por isso “abriu brecha” para o diabo agir; ao contrário: foi o próprio Deus que permitiu que Jó sofresse para prová-lo, mesmo sem ele ter caído em pecado, porque o diabo o acusava de estar adorando a Deus apenas porque não sofria:

 

“...’Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face’. E o Senhor respondeu a Satanás: ‘Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não encoste um dedo nele’. Então Satanás saiu da presença do Senhor” (Jó 1:11-12)

 

Portanto, a razão do sofrimento de Jó não foi em função de um pecado do próprio Jó, como acusavam injustamente seus três “amigos” e como afirmam os pregadores da prosperidade, pois Jó era íntegro, reto, irrepreensível, temente a Deus e o mais justo de toda a terra. Se Jó tinha brechas, então todo mundo da face da terra também tem, pois nenhum de nós consegue ser hoje mais justo do que Jó era naquela época!

 

A Bíblia deixa bem claro que a razão do sofrimento de Jó não foi por uma brecha aberta por ele, mas por uma permissão divina, uma concessão. Aqui temos claramente um exemplo de Deus permitindo o sofrimento de um justo. Isso também está evidente no final do livro, quando é dito claramente que o Senhor trouxe as tribulações sobre ele, e não que o diabo tenha encontrado uma “brecha” para atacá-lo:

 

“Todos os seus irmãos e irmãs, e todos os que o haviam conhecido anteriormente vieram comer com ele em sua casa. Eles o consolaram e o confortaram por todas as tribulações que o Senhor tinha trazido sobre ele (Jó 42:11)

 

Mas a razão deste capítulo é: por quê? Por que Deus permite o sofrimento de um justo? Por que ele simplesmente não evita todo e qualquer sofrimento dos justos, e faz cair toda a desgraça somente em cima dos ímpios e dos mais pecadores?

 

O livro de Jó responde a esta questão também. Primeiramente, devemos ter em mente que um dia Deus condenará os ímpios e salvará os justos. Estes terão uma vida eterna, enquanto aqueles terão uma morte eterna. Há um enorme contraste. Estamos falando de existência ou de inexistência eterna, e não de qualquer coisa.

 

A vida eterna é o maior dom que Deus poderia conceder a alguém, pois o salário natural do pecado é a morte (Rm.6:23), e todos nós somos pecadores (Rm.3:23), não há nenhum de nós plenamente justo (Rm.3:10). Sendo assim, a vida eterna é um prêmio a ser conquistado por aqueles que têm fé em Jesus Cristo, é a maior herança que alguém poderia ter, é o prazer de viver para sempre, junto a Deus, aos anjos e aos outros salvos. E isso será desfrutado somente pelos justos.

 

Se, portanto, a retribuição aos justos por uma vida íntegra na terra é uma vida eterna na ressurreição dos mortos, não podemos esperar que tenhamos aqui nessa vida algo melhor do que os que não herdarão essa vida eterna. Essa vida presente e terrena é um teste para ambos – justos e ímpios – sob as mesmas condições, para ver quem persevera e é salvo, e quem desiste e se entrega ao pecado que conduz à morte. Foi por isso que Jesus disse que Deus “faz raiar o seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mt.5:45).

 

Ele nada mais estava dizendo com este exemplo senão que nesta vida tanto justos como ímpios vivem sob as mesmas condições, pois é a outra vida, a vida eterna, que é a recompensa dos justos, e não esta vida. É na ressurreição que começa a nossa recompensa (Lc.14:14), e não aqui[2]. Aqui nós apenas semeamos sob as mesmas circunstâncias e adversidades dos ímpios aquilo que nós iremos colher e desfrutar , na vida eterna. Portanto, é totalmente justo que nesta vida os justos e os ímpios estejam sob as mesmas condições, pois os resultados irão refletir na vida eterna ou morte eterna após a ressurreição, e essa será a devida retribuição para ambos os grupos.

 

É como em uma prova de vestibular. Enquanto os alunos estão fazendo a prova, todos estão sob as mesmas condições. Todos têm as mesmas perguntas para responder, e os que serão aprovados não têm nenhuma vantagem ou privilégio sobre outros, como acesso a computador, mais tempo para fazer a prova, consulta aos universitários, placas ou passar a vez. A devida retribuição para o aluno que estudou e que foi aprovado é o resultado, quando um entrará na Universidade e o outro ficará de fora.

 

A vida espiritual é a mesma coisa. Todos nós estamos neste momento fazendo essa prova. De fato, estamos sendo testados a todo instante. Todos os dias temos que lutar contra as tentações, resistir aos desejos da carne, demonstrar empenho no estudo da Palavra, na oração, na busca a Deus, no bom tratamento com o próximo, e nós estamos nas mesmas condições daqueles que não fazem nada disso. Mas o resultado das nossas ações, com a devida retribuição, virá na ressurreição. A salvação é como a aprovação no vestibular, e a vida eterna é como a entrada na Universidade. É a partir de então que aquele que foi aprovado desfrutará das vantagens sobre aquele que não foi. Não é enquanto ainda estamos fazendo a prova!

 

Em segundo lugar, o livro de Jó nos mostra que Deus permite que os justos sofram para que eles sejam aperfeiçoados. Foi exatamente isso o que aconteceu com o próprio Jó. Enquanto ele estava apenas curtindo a “vida boa”, com tudo dando certo para ele, ele tinha motivos materialistas para continuar com Deus. Afinal, ele estava tirando vantagens terrenas disso. Foi somente depois de passar por todo o sofrimento e dificuldades que ele pôde demonstrar que era realmente um homem de Deus, pois é nas adversidades que mostramos quem realmente somos.

 

É muito fácil permanecermos com Deus se estamos apenas sendo abençoados o tempo todo, se tudo está dando certo, se estamos bem empregados, ganhando um bom salário, com muitos amigos e tudo muito bem estruturado. Qualquer pessoa do mundo seguiria Deus se fosse assim. Não precisaria amar a Deus para estar com Deus – qualquer interesseiro estaria com Ele nestas circunstâncias! Mas é no sofrimento, nas dificuldades, nas tribulações, nas adversidades que provamos que realmente estamos com Ele porque O amamos.

 

E isso não apenas nos torna crentes mais firmes na fé do que antes, estruturados puramente no amor de Deus e completamente dependentes dEle, mas também nos torna pessoas melhores, aperfeiçoadas. É nas circunstâncias mais difíceis da vida que nós somos aperfeiçoados. Se você olhar bem para a sua vida, verá que quase todo o seu aprendizado foi em função de alguma derrota ou fracasso.

 

É comum aprendermos com a derrota. Na maioria das vezes, a derrota ensina, enquanto a vitória engana. Com a derrota aprendemos aquilo que temos que melhorar, onde temos que mudar, aquilo que podemos fazer diferente. A vitória tende a nos deixar no mesmo patamar de antes. A derrota nos leva a uma auto-reflexão, mas quando só vencemos tendemos a pensar que não precisamos de nada para sermos melhores. A derrota nos leva a ter conhecimento das nossas fraquezas e a depender totalmente de Cristo, enquanto que a vitória muitas vezes nos leva a confiar em nós mesmos.

 

Muitos daqueles que caíram pelo orgulho não foram suficientemente derrotados para aprenderem a humildade. Eles sofreram pouco, e cresceram demais. Tornaram-se soberbos e arrogantes, como se tivessem chegado ali por si mesmos, como se fossem melhores que os demais. É por isso que aprendemos lições valiosas com o sofrimento. Norman Geisler e Frank Turek disseram:

 

“Praticamente toda lição valiosa que você já aprendeu resultou de alguma dificuldade em sua vida. Na maioria dos casos, a má sorte ensina enquanto a boa sorte engana. De fato, você não apenas aprende lições com o sofrimento, como ele é praticamente a única maneira pela qual pode desenvolver as virtudes. Você não pode desenvolver coragem a não ser que esteja em perigo. Não pode desenvolver perseverança a não ser que tenha obstáculos no caminho. Não vai aprender como ser servo a não ser que exista alguém a quem servir. A compaixão nunca será compreendida se não houver uma pessoa que esteja passando por uma necessidade ou enfrentando o sofrimento. É como diz aquela expressão: ‘Sem dor, não tem valor’”[3]

 

Por meio do sofrimento e das adversidades da vida é que nós podemos desenvolver virtudes nesta vida, que nos aperfeiçoará e nos tornará mais capacitados para a vida eterna, para sermos pessoas melhores e para apresentarmos Jesus aos descrentes sendo nós mesmos um exemplo daquilo que Ele foi. O sofrimento nos torna mais parecidos com Cristo. O próprio Jó reconheceu que foi aperfeiçoado com aquilo que sofreu, o que pode ser visto em suas próprias palavras:

 

“Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42:5)

 

Antes de Jó passar por tudo aquilo que ele passou, ele conhecia Deus apenas superficialmente. Ele não era amigo íntimo dEle, não mantinha uma comunhão como a que ele veio a experimentar depois. Ele era justo, mas apenas conhecia Deus de “ouvir falar”. Porém, após sofrer o que ele sofreu, ele desenvolveu essa comunhão com Deus e se tornou mais próximo dEle, ao ponto que os seus olhos o viram. Ele se aproximou de Deus com aquilo que sofreu! Isso é exatamente aquilo que Paulo disse aos romanos:

 

“Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu” (Romanos 5:3-5)

 

Veja quantas coisas valiosas que a tribulação molda em nosso ser: produz perseverança, aperfeiçoa o caráter, cria esperança. Quem não passa por tribulações não pode saber o que é perseverança. Só se persevera se está passando por alguma dificuldade na vida. E quem não persevera não pode ser aprovado, pois é necessário perseverar até o fim para ser salvo (Mt.24:13). É perseverando que nós obteremos a vida (Lc.21:19), é na perseverança que nós aperfeiçoamos nosso caráter, na perseverança nossa fé é renovada e uma esperança é criada. E essa esperança na vida eterna não nos decepciona, pois temos a certeza dela pelo Espírito Santo!

 

É por isso que nenhum verdadeiro servo de Deus irá ser afastado dEle por causa dos sofrimentos. Como disse Paulo, “quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” (Rm.8:35). Até o próprio Senhor Jesus Cristo foi aperfeiçoado pelos sofrimentos. Embora ele nunca tenha pecado, ele aprendeu a obediência por meio daquilo que sofreu:

 

“Embora sendo Filho, ele aprendeu a obedecer por meio daquilo que sofreu” (Hebreus 5:8)

 

Jesus foi tornado perfeito exatamente mediante o sofrimento:

 

“Ao levar muitos filhos à glória, convinha que Deus, por causa de quem e por meio de quem tudo existe, tornasse perfeito, mediante o sofrimento, o autor da salvação deles” (Hebreus 2:10)

 

Se o próprio Jesus aprendeu a obediência e a perfeição através do sofrimento, quanto mais nós, meros pecadores, temos que aprender mediante o sofrimento! Aqueles que dizem que podemos aprender pelo amor ou pela dor sofrem enormes dificuldades em explicar o porquê que o próprio Senhor Jesus Cristo teve que aprender pelo sofrimento. Será que ele não conseguiu aprender só pelo amor? Será que lhe faltou fé? A verdade é que o amor e a dor não são dois caminhos diferentes para se aprender na vida, mas um só. Só se aprende mediante o amor e a dor, e não com apenas um deles.

 

É por isso também que muitas pessoas sofrem e desistem da fé. Deixam de perseverar, murmuram contra Deus, colocam a culpa nEle e se tornam desviadas. Elas não conseguiram aprender com o sofrimento, porque tiveram uma mentalidade completamente deturpada sobre a fé cristã. Elas ouviram um falso evangelho de prosperidade ao invés do verdadeiro evangelho da cruz. Assim, elas desistem na primeira provação ou tribulação que enfrentam pela frente. Jesus falou sobre elas:

 

“Quanto ao que foi semeado em terreno pedregoso, este é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria. Todavia, visto que não tem raiz em si mesmo, permanece por pouco tempo. Quando surge alguma tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo a abandona” (Mateus 13:20,21)

 

Essas pessoas ouviram a palavra, mas não a ouviram da forma que ela é. Quem as doutrinou ensinou que o evangelho oferece uma vida de prosperidade financeira, bênçãos, vitórias, portas abertas e uma vida livre de sofrimentos. Quem pregou a elas disse que elas foram chamadas para crer e prosperar. E com certeza disse: “venha para Cristo e deixe de sofrer”!

 

Então, na primeira tribulação que encontram pela frente elas abandonam o evangelho, pois não é aquilo que elas esperavam que fosse. Ao invés de abrirem mão dessa vida pela vida eterna (Mc.8:35), elas desejam o bom e o melhor nesta vida e também na próxima. Elas querem entrar pela porta estreita seguindo o caminho largo, quando, na verdade, só se pode entrar pela porta estreita seguindo o caminho estreito (Mt.7:14). Ninguém será salvo se não morrer para si mesmo nesta vida (Cl.3:2-4). Sobre elas, Paulo também diz:

 

“Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil!” (Gálatas 3:4)

 

Mas o que acontece com a pessoa que foi doutrinada corretamente, no verdadeiro evangelho, sabendo que “a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp.3:20)? Além de ser aperfeiçoada na fé e de ter um caráter aprovado, ela também é uma coisa: feliz! De fato, Pedro disse:

 

“Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes” (1ª Pedro 3:14)

 

Mas como assim? Se alguém está sofrendo tanto, como é possível que fique alegre? Isso é humanamente impossível, e por isso mesmo que essa alegria não provém de nós mesmos, mas do Espírito Santo:

 

“De fato, vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor, pois, apesar de muito sofrimento, receberam a palavra com alegria que vem do Espírito Santo (1ª Tessalonicenses 1:6)

 

Os tessalonicenses estavam passando por muito sofrimento, mas, mesmo assim, receberam a palavra com alegria. Essa alegria obviamente não provinha deles mesmos, pois ninguém pode humanamente sofrer e estar feliz ao mesmo tempo. É por isso que Paulo diz que essa alegria vinha do Espírito Santo. É uma paz que o mundo não pode dar, só Jesus pode:

 

“Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo” (João 14:27)

 

O verdadeiro cristão, mesmo que sofra, é feliz. Não por uma alegria natural que qualquer pessoa pode obter no mundo, mas por uma alegria que provém do Espírito Santo, por uma paz que somente Cristo pode nos oferecer. É por isso que aquele que não tem Jesus não tem a verdadeira paz, mas sente um vazio existencial, pois este vazio só pode ser preenchido por Cristo. Paulo também disse:

 

“E que a esperança que vocês têm os mantenham alegres; aguentem com paciência os sofrimentos e orem sempre” (Romanos 12:12)

 

Um cristão tem um motivo a mais para ser feliz: a esperança. Não uma mera esperança em ter uma solução terrena para os problemas terrenos, mas uma que está “fundamentada na esperança da vida eterna, a qual o Deus que não mente prometeu antes dos tempos eternos” (Tito 1:2).

 

Os que vivem no mundo podem ter esperanças terrenas em bens ou conquistas terrenas, mas tudo isso um dia acaba. Já o cristão tem uma esperança eterna, fundamentada em um bem supremo, em algo que não tem fim. Em uma herança eterna, que não perece como o ouro e a prata deste mundo. Por isso sabemos que “os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm.8:18), pois “os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles” (2Co.4:17).

 

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

 

Por Cristo e por Seu Reino,

Lucas Banzoli.

 



[1] Isso é provado pelo seguinte texto: “Depois que o Senhor disse essas palavras a Jó, disse também ao Elifaz, de Temã: ‘Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó. Vão agora até meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês mesmos. Meu servo Jó orará por vocês; eu aceitarei a oração dele e não farei com vocês o que vocês merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó’" (Jó 42:7-8).

[2] “Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos(Lucas 14:14).

[3] TUREK, Frank; GEISLER, Norman. Não tenho fé suficiente para ser ateu. Editora Vida: 2006.

 

 

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