Uma das declarações enfáticas e mais fortes da Escritura é quando vemos Paulo escrevendo categoricamente acerca da natureza humana:
“Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; Cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; E não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Romanos 3:10-18)
Dificilmente haveria palavras para expressar a maldade humana além das que foram expressas acima. Elas nos mostram que o ser humano é mau por natureza, ainda que possa vir a praticar o bem. A prática do bem não é algo intríseco da natureza humana. Por muitos séculos as mais diferentes vertentes sobre o tema têm se levantado, algumas para dizer que o homem é naturalmente bom por natureza, outras que o homem é naturalmente “neutro”, outras que ele é ambos, e outros que é naturalmente mau.
Embora seja um árduo trabalho distinguí-las todas para chegarmos a uma conclusão mais plausível, creio ser relevante tomarmos um ponto de encontro como referência partindo daquilo que a Sagrada Escritura nos diz sobre isso. É evidente que a veracidade ou não das afirmações bíblicas devem ser testadas e comprovadas no mundo real em que vivemos. Noutras palavras, devemos ver se aquilo que está escrito é simplesmente letra, ou se tem uma aplicação prática em nosso cotidiano.
Primeiramente é bom considerarmos a relevante distinção entre mente e natureza. O ser humano possui uma natureza caída, pecaminosa, voltada para fazer o mau, e deste quadro nem um se escapa, “nem um sequer”. Analisaremos então tal distinção entre mente e natureza carnal (boa parte destes pontos estão expostos em meu livro “Como Vencer o Pecado”, embora de forma sistematizada e com algumas adaptações).
CARNE
Por causa da Queda, é sempre inimiga de Deus. Ela não pode deixar de ser má para ser boa enquanto ainda vivemos neste presente tabernáculo. A carne é “inimiga de Deus, pois não se sujeita a lei de Deus, e nem pode fazê-lo” (Rm.8:7). Embora a carne sempre seja naturalmente má, nós podemos enfraquece-la, sujeita-la, dominá-la, controla-la. Nós podemos sair do domínio da carne a fim de estarmos sobre o domínio de Deus, tendo controle sobre a carne e não sendo controlados por ela. Paulo também fala explicitamente quanto a isso:
“Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Romanos 8:9)
“Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Romanos 8:14)
Podemos comparar a nossa carne como um inimigo dentro de nós mesmos, uma espécie que nós temos que domar, ou então nós mesmos seremos controlados por ela. A nossa própria natureza (carnal) tem desejos que tem que ser mortos e, por isso, nós mesmos devemos ser sepultados para dar lugar a um “novo homem” regenerado, transformado, a imagem de Deus (Rm.6:6; Ef.4:22; Cl.3:9).
Vale ressaltar que a natureza carnal é assim por natureza, caída em decorrência da Queda. Ela não pode ser transformada em boa, pois é inimiga de Deus e não se sujeita à sua lei. Temos, portanto, que nos controlar e dominá-la. Foi para este fim que Deus colocou em nossos corações uma lei de consciência moral, que devemos seguir para nos livrarmos de nossa própria natureza caída. Sobre isso veremos adiante.
MENTE
A nossa mentalidade, o que a ciência atribui ao cérebro, é algo que pode ser espiritual ou não, dependendo da sua vontade. Muitas pessoas têm as suas próprias mentes voltadas inteiramente àquilo que a sua carne deseja, ou seja, não fazem guerra a ela, não lutam; ao contrário, se submetem a ela pelo próprio desejo. Outras pessoas, contudo, tem a mente voltada para aquilo que o Espírito deseja que o realize.
Nestes casos, tal pessoa vive um dilema em seu intimo: enquanto a carne (que, como vimos, é sempre naturalmente má) deseja ser satisfeita, a sua mentalidade (em contraste) deseja exatamente o inverso, isto é, fugir do mau e do pecado. Nisso fica nítido a guerra no interior que se desenvolve em tais circunstâncias, como Paulo perfeitamente colocou ao escrever aos romanos: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm.7:20). Ou seja, a sua mente (vontade) era de agradar a Deus, de fazer o bem. Contudo, ele não conseguia fazê-lo como desejava. Por quê? Porque ele estava em uma luta interna contra... ele mesmo!
“..Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei da minha mente, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros” (Rm.7:21-23)
E isso leva Paulo a concluir em seguida: “Miserável homem que sou!” (v.24). Paulo se considerava miserável, porque estava em guerra contra ele mesmo – vontades opostas; duas formas diferentes de desejos atuando contrariamente entre si. Embora no seu “íntimo” ele tivesse prazer em obedecer à lei de Deus, em segui-Lo, ele também via uma “outra lei”, atuando nos seus próprios membros, que guerreia contra si mesmo. O que ele expõe aos romanos é por demais elucidativo:
Romanos 7
14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
15 Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.
16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
17 Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
19 Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.
20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
21 Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo.
22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
23 mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei da minha mente, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.
24 Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
25 Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com a mente sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.
Ele sabia que era naturalmente “carnal, vendido ao pecado” (v.14), e admite que “nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne” (v.18). Ele queria fazer o bem, mas muitas vezes não conseguia, pois o mal estava junto dele, intrínseco a sua própria natureza (v.21). A conclusão de Paulo, como não poderia ser diferente, é que apenas Cristo Jesus é capaz de nos dar forças a fim de derrotarmos o mal nesta batalha diária, transformando o “homem miserável” (Rm.7:24) em alguém que pode dizer que “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp.4:13). O mais importante aqui, a mencionar, é que a nossa mente é neutra, ou seja, ela pode naturalmente ser boa ou má, a favor ou contra a nossa carne, dependendo da nossa própria posição diante de Deus.
A carne é decaída por causa do Pecado, mas a mente é livre por causa do Livre-arbítrio. Por isso, você pode ter uma mente carnal (Rm.8:7), ou uma mente espiritual (Rm.8:5). Se você tiver uma mente espiritual, existe (como vimos) a luta diária contra a carne, que sempre será inimiga de Deus e não pode se submeter à Sua Lei (Rm.8:7). Duas manifestações da mesma pessoa estarão em luta dentro de si, de modo que você pode até mesmo não saber quem realmente você é, porque você tem o mal dentro de si mesmo, porém tem o desejo de fazer o bem!
A LEI DE CONSCIÊNCIA
Este quadro fica mais claramente exposto quando analisamos a Lei de Consciência, também chamada de “Lei Moral”, que Deus implantou no coração humano. O apóstolo Paulo discorre sobre isso, dizendo:
“De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a lei; pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os” (Romanos 2:14,15)
Segundo Paulo, nós temos uma lei de consciência moral gravada em nosso coração, que ora nos acusa, e ora nos defende. É por meio dela que nós podemos saber, por exemplo, que torturar um bebê é uma coisa má, e ajudar os necessitados é uma coisa boa. Se ela não existisse, provavelmente jamais saberíamos se o amor é bom ou mau, bem como o ódio, a tortura, a benevolência ou a caridade. Nós não poderíamos distinguir tais coisas, dizendo que uns são bons e outros são maus, precisamente porque não teríamos qualquer “árbitro” em nós mesmos para decidir o que é certo e errado.
Paulo oportunamente a chama de “lei”, pois, de fato, ela atua como uma “lei”. Pegue por exemplo o caso das leis de trânsito. Como você sabe que se ultrapassar o sinal vermelho na frente de um guarda pode ser preso? Porque existe uma lei dizendo isso. Se não existisse lei nenhuma, você poderia ultrapassar o sinal vermelho e ele não poderia te multar realmente. Da mesma forma ocorre com a nossa consciência. O motivo pelo qual nós sabemos que é objetivamente errado o estupro e a tortura é porque existe uma verdadeira lei moral em nossos corações.
Se ela não existisse, a definição de certo e errado seria mera conjectura e subjetivismo. É essa Lei Moral (lei de consciência) que nos impede de praticarmos o mau, em muitas vezes quando estamos com vontade de fazê-lo. Por exemplo, muitas vezes ficamos irados com uma outra pessoa que faz o mau a nós. Embora tenhamos a vontade de “quebrar a pessoa ao meio”, muitas vezes nos controlamos e não agimos maldosamente.
Se alguém passar perto de você e te agredir do nada, sem motivo algum, a sua primeira reação será ficar, no mínimo, revoltado com este sujeito. Alguns poderiam querer partir para a briga, mas outros se conteriam e deixariam este caso isolado de lado. A razão principal que temos aqui é a seguinte: Por que nós não fazemos aquilo que queremos, mas nos controlamos e tentamos não agir da maneira como vêm à mente?
Simplesmente porque esta lei de consciência atua como um árbrito em nossos corações, uma lei que nos controla e muitas vezes nos impede, ou pelo menos freia, os nossos instintos carnais de praticarmos mal. Isso não significa que ninguém vai fazer o mal por causa dela. Algumas pessoas vão quebrar essa lei moral, assim como muitas furam o sinal vermelho, mesmo sabendo que é errado. Isso explica o porquê de tanta violência e maldade no mundo. Mas o mundo só não é pior porque essa lei de consciência freia os nossos instintos e nos impede de agirmos como se fôssemos animais desenfreados.
A segunda questão que temos que expor aqui é: Por que essa lei de consciência serve para barrar o mal? Simplesmente porque a nossa natureza é má. Não existiria nenhuma razão para termos uma lei de consciência moral (que freia o mal), se nós já fôssemos naturalmente bons.
Por exemplo, se alguém passa do meio da rua e lhe agride fisicamente sem motivo algum, a sua primeira reação não é dizer: “Jesus te ama”. Pelo contrário, a sua primeira reação é querer espancar o cidadão de volta. Então, essa lei de consciência entra em ação e contém este mau presente em nossa própria natureza, e nos faz deixar de lado tal ideia. Depois de um tempo, podemos até chegar a dizer que Jesus ama ele!
O fato mais importante a frisarmos, contudo, é que a única razão pela qual Deus colocou em nós uma Lei Moral é porque nós somos extremamente tendenciados ao mal, de tal forma que, caso tal lei não existisse, o homem não passaria de um animal levado por instintos violentos, pecaminosos e imorais. De fato, a existência da Lei de Consciência é uma prova e tanto de que nós somos por natureza maus.
O HOMEM É BOM POR NATUREZA?
Embora o que já tenha sido exposto já seja esclarecedor, é por demais relevante expormos mais pontos pelos quais podemos ver que o homem não é “bom por natureza”. Por exemplo, se ele fosse naturalmente bom, não existiria lugar para o mal. Nós seríamos sempre tendenciados a praticar o bem, vivendo em um mundo cor-de-rosa totalmente imaginário, que não tem qualquer ligação com o mundo real.
Embora a nossa consciência nos diga que devemos praticar o bem (que algumas vezes realmente praticamos), a nossa natureza frequentemente se desvia disso e pratica ações que são consideradas transgressões de uma lei moral invisível, porém real. Por exemplo, ninguém vai pensar que a razão pela qual um filho não pode esquartejar a mãe é somente porque ele será preso de acordo com a lei civil.
Ao contrário, ainda que vivêssemos em um país onde sequer existe lei civil em prática, mesmo assim consideraríamos tal ato completamente abominável, porque sabemos que ele é em si mesmo algo ruim, independente de leis humanas. Isso atesta novamente para a existência de uma lei moral interior independente de leis civis humanas.
O próprio fato dos homens criarem leis significa que eles estão cientes daquilo que é objetivamente certo e errado. Doutra forma, sequer existiria lei! Portanto, nós devemos ter uma lei gravada em nosso interior, que nos corrige e que nos faz formularmos leis também por escrito, sendo muitas vezes um reflexo daquela que está escrita em nossos corações.
A bondade natural do homem exclui a necessidade de tal lei, pois se assim fosse, nem precisaria de lei para punir o mal (visto que já seríamos inteiramente levados a fazer o bem por instinto), nem mesmo o próprio mal existiria no mundo. Vale ressaltar novamente que os nossos instintos não seriam voltados para o “pagar o mal com o mal” quando alguém nos agride de alguma forma. Se fôsemos naturalmente bons, então teríamos a tendência natural de fazer o bem a quem nos faz o mal.
Por exemplo, nós naturalmente amaríamos e oraríamos por alguém que mata os nossos parentes. É óbvio que isso não acontece, pois a tendência natural é de fazermos o mal (ou pelo menos desejarmos o mal) a alguém que nos faz o mal ou faz tal coisa a alguém que temos afeto. Foi por isso que Jesus precisou dizer coisas como essas:
"Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar-lhe a túnica, deixe que leve também a capa. Se alguém o forçar a caminhar com ele uma milha, vá com ele duas. Dê a quem lhe pede, e não volte as costas àquele que deseja pedir-lhe algo emprestado" (Mt 5.39-42)
"Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus" (Mt 5.44,45)
"Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros nos céus, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração" (Mt 6.19-21)
"Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem, também será usada para medir vocês" (Mt 7.1,2)
Se já fosse natural amarmos os nossos inimigos e orarmos por eles, não sermos tendenciados ao dinheiro ou a ganância mas sim abrir mão dos nossos desejos, não resistir ao perverso, não fazer julgamentos precipitados ou dar o outro lado da face a alguém que nos agride, então Jesus não precisaria ter ensinado nada disso, pois já seria totalmente natural e praticável tais coisas!
O motivo pelo qual o Sermão do Monte (em Mateus 5) é uma das mensagens mais fortes da Bíblia provém exatamente do fato de que sabemos que tais coisas (assim como muitas outras) não é algo que praticamos naturalmente, nem tampouco que temos tendência de praticá-las normalmente. É, antes de tudo, um auto-sacrifício, um altruísmo, pois estamos abrindo mão de nossos desejos que são naturalmente maus, para praticarmos o bem. Por tudo isso, é indiscutível que a natureza humana não é por natureza boa.
A ORIGEM DO CONCEITO DE MORALIDADE
Alguns poderiam argumentar que o conceito de moralidade não tem origem divina, sendo fruto apenas de uma “evolução biológica”. Embora tal argumento não mude absolutamente nada dos pontos que estão sendo aqui tratados (pois ainda que a moralidade não provenha de Deus, o homem não deixaria de ser naturalmente mau por causa disso!), creio ser relevante tratar também deste tema mais em específico.
Em primeiro lugar, a moral não tem nada a ver com “evolução biológica” das espécies. Moralidade não é fruto de processos biológicos, nem tampouco de mutação ou seleção natural, muito menos “evolui” com o passar dos tempos! Se a moral fosse mesmo fruto de evolução, então teríamos que pensar que há algum tempo remoto o estupro, tortura, esquartejamento, assassinato ou pedofilia eram práticas absolutamente boas ou aceitáveis!
É, no entanto, fato notório que desde a invenção da escrita (há seis mil anos), ninguém contestou tais pontos ou os colocou como “bons”. Eles eram atrocidades ontem, hoje e eternamente. Princípios morais não regridem e nem tampouco evoluem. Hábitos e costumes mudam. Eles podem mudar através do tempo. Há alguns séculos não era um costume muito comum tomar banho e, de fato, até hoje na Europa não existe o costume de tomar banho todos os dias, enquanto que aqui no Brasil é costume tomarmos banho diariamente.
Pode ser que daqui algumas décadas ou séculos este costume seja ainda mais praticado (com mais frequência), ou pode ser que nós nos aproximemos dos europeus. Tais costumes são relativos, e não absolutos. Eles são dependentes de culturas, não são universais. Eles podem passar por mudanças através dos séculos. A moral, contudo, permanece inabalável em vista de todos os fatores que vimos. Em toda a história, em todas as épocas e em todas as culturas o estupro não era considerado algo bom ou normal.
Da mesma forma, os demais princípios morais eram observados, universalmente, pois já estão gravados no coração humano. Dizer que a moral é puramente humana e não divina significa relativizar os princípios morais ao mesmo nível e patamar de meros hábitos e costumes. É dizer que o estupro e a tortura é como o tomar banho e pintar o rosto. Que uma hora é aceitável, outra hora não é mais. Que pode mudar depois de uns tempos ou que um dia não foi assim.
Significa que ações como estupro, abuso de crianças e brutalidade são apenas comportamentos sociais que estão no mesmo nível de costumes, que não são objetivamente certos ou errados, mas apenas subjetivamente. Ora, a moral não é subjetiva como os costumes, mas sim objetiva. Como Ruse declara, ”o homem que diz que é moralmente aceitável estuprar criancinhas está tão errado quanto o homem que diz que 2+2=5″.
Assim como essa operação matemática (2+2=5) está objetivamente errada, também tais práticas perversas são objetivamente erradas. Desta forma, ela não pode ser fruto apenas de subjetivismos e opiniões pessoais. Se fosse assim, então ninguém seria realmente culpado por cometer um estupro ou torturar uma criança até a morte. Afinal, seria apenas e nada a mais do que a opinião do estuprador contra a opinião de uma outra pessoa.
Não existiria, portanto, nada objetivamente errado nisso, sendo apenas fruto de questões pessoais. O fato de que tais práticas são realmente condenáveis e objetivamente erradas provém do fato de que elas não são mero fruto de opiniões pessoais ou relativismos, mas algo que eterno e imutável que provém do nosso Criador. Afinal, ninguém condena alguém por ter um costume diferente de outro.
Ninguém, por exemplo, irá condenar alguém por ter o costume diferente do outro em escolher uma marca de refrigerante diferente para beber, ou por tomar banho muitas vezes ao dia, ou por preferir usar calça jeans do que shorts, ou mesmo por ter o costume de usar boné ao invés de chapéu, ou até mesmo que ser careca! Se alguém é adepto de tais costumes ou de muitos outros que poderíamos citar, essa pessoa não vai ser presa, nem julgada, tampouco condenada. Ela não está objetivamente errada.
Alguém pode até achar “errado” comer brócolis com a alegação de que não é nada gostoso. Mas seria mero subjetivismo, não passando de opiniões pessoais. A moral, contudo, se difere completamente dos hábitos e costumes porque não é subjetiva e nem mesmo questão de “opinião”, mas sim a transgressão de conceitos verdadeiros e objetivos que podem caracterizar qualquer pessoa como um “monstro” ou como um “santo”. Ela é independente de costumes e não está dependente de opiniões, pois é a mesma que atua no coração de cada um.
Os próprios estupradores, assassinos e torturadores não fazem isso achando que é certo. Eles sabem que isto é errado, mas eles fazem mesmo assim! O estupro é considerado universalmente como uma maldade e uma impiedade, não existe sequer um único registro histórico nem no mundo atual e nem no mundo antigo de algum povo, tribo ou nação que tenha reconsiderado isso ou achado que o estupro é algo útil e proveitoso que tem que ser estimulado. Dito em termos simples, o estupro é universalmente reconhecido como algo errado, e não como algo certo!
O estuprador, ao estuprar um indefeso, sabe que ele está fazendo uma coisa errada. Ele não está fazendo aquilo por achar que está certo em fazer aquilo (doutra forma nós poderíamos dar “razão” a ele), mas sim porque insiste em passar por cima da lei moral (lei de consciência) que Deus implantou em todos os corações. Já foi mais do que comprovado que o DNA não fica feliz, não fica triste, não acha que está certo e nem que algo está dando errado, o DNA apenas é o que é!
Do mesmo modo, a teoria da evolução não explica satisfatoriamente a moralidade porque não existe moralidade dentro de um processo evolutivo, seja por seleção natural, mutação, etc. A seleção natural cuida apenas de eliminar do meio aquilo que está desaproveitável e ajuntar aqueles que são os mais aptos, ela não cria uma “nova” espécie, não cria informação genética nova e muito menos coloca um princípio moral no coração dele!
Portanto, devemos considerar como sendo o mais plausível e aceitável aquilo que a Escritura afirma a este respeito, sobre como Deus colocou este princípio moral nos seres humanos:
Romanos 2
14 Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei;
15 Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os;
16 No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.
Aqui percebemos a resposta que nem o DNA e muito menos a seleção natural nos oferece com relação à moralidade: ela está gravada por Deus em nossos corações, uma lei de consciência, que ora nos acusa, e ora nos defende. Sendo que é Deus o autor da Lei Moral, é óbvio que Ele não iria colocar uma lei moral diferente para cada um.
Um acha que pode estuprar, o outro acha que não pode. Um acha que é certo ser pedófilo, outro desconsidera isso. Um acha que se perverter ou adulterar é algo moralmente correto, enquanto outro acha que isso não é certo. É evidente que estes exemplos simplesmente inexistem, porque Deus colocou uma única e mesma lei moral (absoluta) no coração de todos os seres humanos, que em função de seu livre-arbítrio tem a liberdade de escolher entre se sujeitar a ela ou não.
CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muito mais poderia ser dito sobre este assunto, mas pelo que já foi explanado dentro deste pequeno resumo, podemos convictamente inferir que:
1. O ser humano é naturalmente mau, isto é, tendenciado a fazer o que é mau pela sua própria natureza.
2. A essa maldade no ser humano a Bíblia chama de “carne”, sendo que o próprio apóstolo Paulo liquida a situação dizendo acerca dele mesmo que “nada de mim habita em mim, isto é, em minha carne” (Rm.7:18). Ou seja, o homem é naturalmente mau.
3. Porém, Deus nos deu uma lei de consciência para servir como árbitro e frear os instintos da carne (Rm.2:14,15). É por meio dessa Lei Moral, ou Lei de Consciência, que sabemos o que é certo e o que é errado, e que devemos fazer o que é certo e não aquilo que é errado.
4. Essa Lei Moral é objetiva e foi criada por Deus, não sendo fruto de processos biológicos, nem tampouco se iguala a meros costumes subjetivos ou a simples opiniões pessoais.
Estes quatro pontos servem para dar uma boa base neste tema em questão. Embora o iluminismo e outras vertentes seculares tenham propagado com grande altivez que o homem é “bom por natureza”, descobrirmos que os argumentos bíblicos são muito mais sustentáveis em vista do mundo em que convivemos, sendo portanto a visão de mundo mais plausível de ser aceita.
Por fim, vale ressaltar também que, se o homem fosse bom por natureza, seria totalmente desnecessária a existência de um Messias, para que por meio da sua bondade salvasse a nossa própria corrupção. Afinal, se já somos bons por natureza, então Cristo se torna um elemento dispensável, pois o próprio homem salvar-se-ia a si mesmo.
A mensagem da cruz nos revela não apenas que Jesus foi o único homem que não pecou, mas também acentua o contraste entre Deus, sendo o Bem Supremo, e o nosso próprio pecado e maldade. É apenas e verdadeiramente somente por meio Dele que temos o nosso perdão, e por causa da nossa própria maldade dependemos inteiramente da misericórdia e da Graça dele para a salvação. Afinal, nós somos “salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de nós, é dom de Deus” (Ef.2:8).
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli.
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